Os verdadeiros economistas

Paulo Silveira
3 min readApr 14, 2019

Texto publicado em: Terraço Econômico

Há algum tempo me deparei com o texto The Natural, escrito pela conhecida economista Deirdre (na época, Donald) McCloskey no início dos anos 90. Ao longo do texto ela reflete sobre a forma de pensar do economista. Um jovem recém-ingresso na graduação seria capaz de pensar como um verdadeiro economista? Ou ainda, economistas “natos” existem? Apesar de algumas discordâncias pessoais, meu objetivo com este artigo é apresentar uma síntese dessas interessantes e quase “existenciais” reflexões sobre o economista.

Os economistas acreditam nas ciências econômicas, diz McCloskey. Nem todos, mas alguns acreditam. Logo, diante das mais diversas questões sociais, os “crentes” buscam eventuais respostas na economia. Essas mesmas pessoas tendem a concordar quando perguntadas sobre os melhores economistas: Armen Alchian, Ronald Coase, Gary Becker e outros nomes conhecidos pela corrente ortodoxa da profissão. Apesar das concordâncias, McCloskey é enfática: não é possível ensinar economia aos alunos de graduação. Só é possível ensiná-los sobre a economia. Seguindo o mesmo raciocínio, o estudo da história da arte não é ensina como pintar um quadro, tampouco estudar literatura ensina como escrever um best-seller. Em outras palavras, a graduação pode ensinar sobre economia, mas não te torna um economista.

O ideal para os crentes é: qualquer estudante, em qualquer nível de educação, pode começar a pensar feito um economista. Isso é, olhar para a realidade diante de si próprio e pensar em maximizações, equilíbrios, interações ou identidades contábeis. Trata-se de uma forma específica de enxergar o mundo, dadas certas noções de demanda, restrição, incentivo ou bem-estar. Contudo, o desafio é transmitir essa forma de ver o mundo ao outro. A teoria microeconômica vista por um economista como as entranhas da disciplina é igualmente vista como um assunto entediante para o jovem estudante. Nem mesmo os melhores alunos são capazes de formular um problema microeconômico, resolvê-lo e aplicá-lo ao mundo real. Porém, os melhores estudantes de engenharia ou história certamente se sairiam melhor caso recebessem uma tarefa análoga.

Talvez os livros-texto sejam o problema, diz a economista. Contudo, troque o referencial didático e o resultado provavelmente será: “Isso é muito difícil!” Essa fala surge porque é difícil pensar como um verdadeiro economista. Copiar a matemática do livro-texto? Fácil. Discorrer sobre as implicações da política na economia? Fácil. Aprender sobre a economia? Fácil. Pensar como Friedman ou Solow? Difícil. O economista, com raras exceções, só atingirá a maturidade após anos de experiência acadêmica ou profissional. Assim como não é possível ensinar filosofia para jovens, apenas sobre filosofia, não é possível ensinar economia para estudantes de graduação. O jovem é romântico. Embora seja capaz de memorizar fórmulas, pensar em custos e benefícios exige certo distanciamento emocional. O estudante recém-saído de uma economia socializada (vulgo, casa dos pais) não tem noção sobre a escassez e as escolhas inerentes à vida adulta. Ele aprenderá matemática e história, mas, o modo de vida da economia não pode ser ensinado e leva tempo para ser desenvolvido. Todavia, há quem discorde. Por quê?

McCloskey argumenta pela existência de uma espécie de “economista nato”. O chamado Natural vê a economia de forma intuitiva, já os demais constroem a própria visão deliberadamente. O primeiro tipo de economista é capaz perceber o sistema de preços funciona para a alocação e seu custo social é o mais baixo dentre certas opções com relativa rapidez, enquanto o segundo tipo construiria as mesmas percepções ao longo de décadas. Considerando o Natural, temos duas figuras distintas: aquele movido pelo interesse próprio e cuja personalidade emula o homo economicus e aquele que compreende a economia através do exercício da alteridade. Em suma, a conclusão derivada dessa série de reflexões é: a grande maioria dos estudantes não é composta por futuros economistas natos. Pelo contrário, podem e devem aprender sobre a economia para aplicá-la às próprias vidas.

Contudo, pensar com a cabeça dos economistas é uma outra história…

--

--